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20 de novembro de 2015

No dia da consciência negra faltam motivos
para as mulheres comemorarem

Mulheres negras durante a marcha realizada no dia 18 de novembro em Brasília 
(Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil) 

Vez ou outra o pai dela direcionava os olhos dela para os dele e dizia: "olhe bem para minha pele, eu sou um homem negro". E como se estivesse contemplando um espelho, Ana José Alves via o reflexo do que também era, ao mesmo tempo em que refletia sobre o significado daquelas palavras que a fizeram ter vontade de lutar pela causa, até tornar-se presidente do Coletivo de Mulheres Negras de MS. No Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, Ana afirma que há poucos motivos para comemorar, mas sobram razões para continuar lutando.

"As mulheres negras continuam na base da pirâmide, temos pouca ascensão. É só observar quantas mulheres temos em cargos de chefia, como gerentes, deputadas. Muito pouco! E tudo isso por conta do preconceito", declarou Ana ao Mulheres Inspiradoras.


Ana José Alves luta pela causa depois
de ter sido influenciada pelo pai
(Foto: Reprodução/Facebook)
Ela explica que o Dia da Consciência Negra é celebrado desde a década de 70 como marco da morte de Zumbi dos Palmares, ícone da resistência dos negros contra a escravidão, mas só a partir de 2001, depois de uma conferência mundial realizada em Durban, África do Sul é que começaram a ocorrer algumas ações governamentais em prol dos negros. "Temos mais desafios que avanços para comemorar e nossa luta pela liberdade dura mais de 300 anos", diz.

Os grilhões e chibatas tão recorrentes quando a escravidão ainda vigorava parecem ter sido substituídos pela falta de acesso dos negros aos espaços privilegiados ou pelas ofensas direcionadas às culturas de matriz africana nas redes sociais. "O Brasil está passando por um retrocesso", lamenta Ana.

Mas no dia 18 de novembro esse "movimento para trás" deu uma pausa e foi possível acompanhar um avanço, quando quatro mil mulheres se uniram em Brasília e marcharam contra o racismo. "Foi um fato histórico, político e emblemático e mostra que estamos reagindo, sim, contra toda forma de opressão, racismo e sexismo. A mudança depende da base da pirâmide". Ainda dentre os poucos avanços, Ana cita a nomeação de Nilma Gomes como ministra da cidadania.

O COLETIVO

Ana comenta que o Coletivo de Mulheres Negras de MS foi criado em setembro de 1995 para promover ações de valorização da mulher negra e estabelecimento da igualdade.



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