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16 de novembro de 2015

Jovem relata que dois AVC's hemorrágicos na infância serviram de impulso para vencer desafios

Thamires Rombi, 25 anos, é formada em biologia e faz especialização em perícia criminal e ciências forenses  (Foto:Arquivo Pessoal)

Durante a colação de grau, quando usava a tradicional beca preta e o capelo, Thamires Rombi Azuaga, de 25 anos, fez um questionamento silencioso: "Se eu tivesse me contido com a vontade do médico, de me deixar em casa naquele ano, teria alcançado meu diploma?". Sem ter a resposta, ela só pode concluir que a "teimosia" que lhe é peculiar foi fundamental para contrariar desde um diagnóstico pessimista até a desconfiança das pessoas em relação a capacidade dela depois de dois AVC's (Acidente Vascular Cerebral) sofridos na infância.

"Eu brincava na calçada em frente de casa, quando senti uma dor muito forte na cabeça e entrei para avisar a minha avó. Ela pediu que me deitasse para que ela pudesse colocar um frango no forno e disse que me levaria um remédio, mas antes mesmo de chegar até a cama eu caí no chão", relata Thamires ao lembrar do momento em que teve o primeiro AVC.

À época, com oito anos, ela foi socorrida pelos parentes e levada até um hospital, onde um neurologista deu o diagnóstico da doença. "Ele informou à minha família que a minha chance de viver era de 1% nas primeiras 6 horas daquele dia".

Depois de procedimento cirúrgico com inserção de cateter para controlar a pressão arterial dentro do crânio, ela foi levada para UTI, onde sofreu um novo AVC. "Dessa vez, o médico disse à minha família que eu teria 0,5% de chance de sobreviver,afinal era um caso raro e nem eles sabiam como eu ainda estava viva".

Após 27 dias internada em coma induzido, ela acordou, mas com sequelas. Dentre elas, dificuldade em conter a urina e ficar em pé. Mas para Thamires, o pior foi perder o bimestre escolar. Aos primeiros sinais de melhora, a obstinação dela veio à tona. "Teimei com a minha mãe que iria para a escola, meu desejo de estudar era muito grande". E ela foi.

Mas além das limitações físicas, ela teve de enfrentar outros obstáculos. "Durante um período, me senti triste, deprimida, porque na escola algumas pessoas me olhavam diferente. Isso porque minha mão tremia e ás vezes eu me atrapalhava em algumas atividades. Tomava remédios que me davam sono, chorava por quase tudo e durante um período não queria sair de casa porque tinha vergonha da minha aparência", desabafa. As notas acima da média que a fizeram melhorar.

"Naquele ano eu fazia a 5ª série e passei de ano como a 2ª melhor aluna da sala, mesmo assim não me contentei. Queria o 1º lugar", brinca. Essa ambição infantil, claro, estava relacionada ao desejo de provar que a doença não tinha causado prejuízos no comportamento dela. " Eu queria me superar, mesmo com minhas limitações: o tremor da mão esquerda, a visão dupla e a falta de coordenação motora e consegui naquele ano, com a ajuda de meus amigos de sala, venci todas as barreiras!".

E venceu outras como voltar a andar de bicicleta, contrariando até recomendação médica.  Estudar no colégio que queria, com auxílio da família que enfrentou horas em fila para garantir a bolsa de estudos e cursar biologia na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

"Foi difícil porque estava desempregada e minha família não tinha condições de arcar com mais esta despesa. Por vezes recorri a meu avô que me ajudou nas mensalidades. Fui bastante persistente e finalmente em 2014 conclui minha graduação, com a melhor nota de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da turma".

Sem nenhum resquício dos AVC's, depois de ter feito tratamentos médicos, hoje Thamires é funcionária pública municipal e cursa especialização em perícia criminal e ciências forenses. "Sou muito teimosa mesmo, mas gracas a isso estou aqui", finaliza.
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