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3 de novembro de 2015

Estudante surdocega supera limites e cria incríveis peças

(Foto: Maressa Mendonça)
A arte foi a maneira encontrada pela estudante Ana Cristina Viana Pereira de Arruda, de 41 anos, para lidar com as sombras impostas pela cegueira e o silêncio imposto pela surdez. Com as esculturas que cria em papel machê, a estudante surpreende professores e alunos da escola em que estuda e prova que a força de vontade pode, sim, superar deficiências físicas.

Na escola Adventor Divino de Almeida, as barreiras de ouvir e falar são ultrapassadas com o auxílio das intérpretes, Eliege França e Ana Claudia de Carvalho que, transmitem os pensamentos e sentimentos de Ana Cristina por meio da libra tátil. Assim, a estudante conversou com a reportagem do Portal Correio do Estado.

Ela contou que a ideia de criar as esculturas surgiu durante as férias escolares do mês de julho. “Numa sexta-feira, peguei papel e caixa para fazer formato e depois pintei”, lembra Ana Cristina, ao detalhar como criou um templo grego com massa de papéis que seriam descartados.

Mais tarde, foram feitos os dinossauros, inspirados em miniaturas da coleção do filho de Ana Cristina. “Ele não esperava que fosse ficar tão bonito”, brinca. Mas isso não quer dizer que o garoto não estimule o trabalho da mãe, e não só ele, como o marido e a filha dela. “Todo mundo de casa sempre me incentivou”. E os familiares auxiliam também quando há necessidade da utilização da tesoura.

Esculturas foram feitas em papel que seria descartado (Foto Maressa Mendonça)



Autodidata, Ana Cristina conta que sempre teve habilidade com trabalhos manuais. Por isso, não se surpreendeu com os elogios recebidos. Sobre a reação da professora de Arte, Izabella Cayres, uma das primeiras a ver as esculturas prontas, ela conta que “ficou enlouquecida, querendo saber que materiais tinha usado, como tinha feito”.

A professora confirma.”Eu fiquei abismada! O templo grego tinha relação com a disciplina, mas os outros ela fez porque quis. Fez sozinha, porque gosta de fazer”. Ela lembra que, além da esculturas, a estudante também gosta de desenhar. “Ela sempre traz para eu ver”, diz.

Quem também gostou do que viu foi o colega de sala Luis Lellis da Costa, 15, “Vi pela página da escola. Não esperava um trabalho assim dela. Ninguém esperava. É uma motivação! Pensei uma pessoa cega e muda consegue fazer isso e eu não consigo”.

“A gente olha e pensa: como pode? Eu nunca faria, nem enxergando”, completou Marilene de Lima Neves, outra intérprete que atua na escola.

A habilidade de Ana Cristina em manipular os materiais até formação de esculturas perfeitas é um hábito antigo. “Quando perdi a visão, senti um pouco de medo. Foi difícil, mas já acostumei”, declarou ela, sem detalhar como perdeu a visão.

Ana Cristina e intérprete Ana Cláudia
(Fotos: Maressa Mendonça)
LIBRAS TÁTIL
Se há diferenças nos gestos utilizados na Língua Brasileira de Sinais (Libras) exclusivamente para os surdos dos empregados para os que também são cegos, a intérprete Ana Claudia de Carvalho explica que, a linguagem é a mesma. “Só que ela segura na minha mão para sentir o que eu estou falando”.

Segundo ela, a diferença está no tempo de transmissão das palavras, mais lento quando se trata de surdocegos. “O surdo é visual. Mas neste caso, se você fizer sinal muito rápido pode confundir”, detalha.

*Matéria originalmente publicada no Portal Correio do Estado 

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